sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

 Um dia a vó de um amigo me pediu para que andasse com ele. Como se minha presença o fizesse tirar melhores notas ou deixar certas amizades... Sempre tive jeito de bom moço.
 
  A vida contigo acontece despretensiosamente.

 Eu sempre te digo que a arte alimenta, não sei se você me ouve, mas eu sei que me faço ouvir e sei que te ouço quando me escutas, lendo calma e caprichosamente sobre o furto de um jacinto numa instância outrora imperial carioca. A arte alimenta e talvez por isso tenha tanta fome...
Existem duas formas de perder na cidade. Você pode se perder ao andar e encontrar conhecidos ou conhecidos de conhecidos e parentes destes e antigos colegas de outros conhecidos que, por ventura, você conheceu e assim, cair na perdição de conhecer quase ou tudo sobre nada e redundâncias da vida profana de conhecidos da cidade. Isso com o grau de profundida de uma mesura que acaba em um mexerico. 
Gosto mais do segundo tipo: gosto de me perder na cidade, na solidão. Na solidão de ter tanta gente ao redor acima e abaixo que, a leseira de tantos conhecidos por conhecer se transforma em falta, a falta se tornando rotina e desilusão se formaliza naquele "acinzamento" melancólico de Eça de Queiroz ou naquele quê "blasé" de Simmel. Essa falta que deveria ser a morte de esperança não é, e não é por você.
Com você a cidade tem mais vida, com você a cidade tem mais arte. Por mais que eu diga, você é quem faz. Despretensiosamente. 
Descobri que minha cidade, nossa cidade é contemplada por uma Deusa e seus monstros. Uma casa de campo, que ainda não visitamos. Com você um dia percebi que um livro vermelho no balcão da biblioteca reservava uma ligação entre Unicamp e Picasso. Sempre preferi Picasso à Dalí. 
Um gesto repetitivo de pegar livros pode parecer cartunesco. Confesso. Mas nesses dias que são dias qualquer suspiro de vida que venha é bem-vindo! Qualquer suspiro de arte, qualquer suspiro de amor é amor. Por mais que despretensioso. Ao me mostrar os recantos escondidos dessa cidade me mostras os seus encantos empedernidos na vontade, falta vazão e, aqui estou. 
Esses pedaços de papel que sua bolsa me defendeu apenas potencializa meu amor. Tal como passar tarde em cafés. Esse seu jeito de me levar ao belo e ao melhor, esse tanto de vida, me mostra como a vida é melhor. 
É um prazer me perder nos seu conhecidos desconhecidos e encontrar suspiros, inalando arte disciplinada e expirando amor. 
A arte alimenta, como um sol... Um sol loiro. 


 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

01/11/22

I

 Que dias foram esses!

Você me chegou trazendo luz. 

Saímos as ruas com nosso jeito singular:  acabamos fazendo uma carreata completa, com dois políticos em casal no palco de luta. 

Como eu ri! Chamamos atenção!

Adoro quando minhas transgressões te incendeiam a alma, esses momentos são como sonhar de olhos abertos, por isso ria tanto.

II

No sebo são-carlense há uma organização peculiar. Uma troca constante de volumes lidos no vestibular e uma permanência cruel de clássicos. Aos poucos, com muita singeleza, tentei contribuir para o fluxo de clássicos, li alguns e outros vieram. É o máximo que poderia fazer. No entanto, a última recordação que levarei daqueles quatro cômodos empilhados de livros e tentativas mercadológicas não é o cheiro das brochuras. Aliás, não se engane, não é só cheiro. O cheiro dos livros vividos é cativante."quanto mais velho melhor", "que olhos desnudaram essas histórias? Poemas? Cenas? E verbetes?".

Ah, se eu viajasse no tempo... 

Mas esse cheiro de "alma" é confundido com um perfume. O perfume que me remete a companheira (e que viva o retorno do lulismo!), ao início. Que é o único cheiro capaz de me tirar suspiros.

O cheiro que tirou do odor dos cabelos louros de Janaina-Iemanja e me colocaram em delírio com seu mar de mulher. 

Cuidado com a cabeça e com chicletes. 

Cuidado com Borges, Veríssimo e um diplomata. 

III

Esses anos foram cruéis. São tantos motivos que verdadeiramente não é esse o espaço para discorrer. 

No entanto, pude ver com você a derrota do neofacismo. Um pouco de esperança no oceano de medo que se tornou o público. Temos novamente a oportunidade de radicalizar no sentido histórico da emancipação humana a democracia brasileira.

Queria ter comemorado esse momento com um beijo longa e aliviado, uns passinhos trágicos de dança. Bêbado de alívio e amor.

Ao sairmos da sessão eleitoral, me recordo, cantamos: "amanhã será um lindo dia". Um pouco de amor numa cadência contra o ódio alheio que nos fuziilava com os olhos. Meu pitoco me protegia. 

Enfim, foram dias! Sempre fui otimista. Me sinto novamente otimista. Não só pelo novo governo. Por você. O ano está acabando e tantas memórias memoráveis! Mas ainda falta... Ainda vamos vencer mais, tu e eu. Eu e tu. 

Vou evitar falar da comilança, não sou muito vaidoso, mas não vou advogar contra minha honra rs.


sábado, 1 de outubro de 2022

29/10/22 

Nessa noite tão dormida quanto curta que passamos juntos um ato de amor:

Você treme ao ter um sonho estranho

No terceiro estranhar, te chamo:

   -    "Amor!"

    - "Oi. O que foi?"


Seu sono é ligeiro. Seu sono (agora) é bom.


Lay down your money and you play your part

Everybody's got a hungry hear

terça-feira, 27 de setembro de 2022

     

    Adoro aquele momento escasso no dia em que o sol prestes a ir embora deixa o dia dourado. Fica um tanto melhor quando acompanhado de um pouco da vida dos personagens e quando se tem alguém para se sentir saudades. Recentemente, tenho sentido muita saudade e tenho poucos momentos com personagens. Um prédio em específico deixa tudo mais lindo, o sol dourado bate nas janelas, sua pintura cor de cimento rebrilha e a construção dura se amolece. Uma arquitetura antiga, um momento breve de brisa, uma saudade torturante. 

    Nestes dias descobri que tenho uma necessidade que nunca soube que havia. Por um infortúnio de logística, sinônimo de minha irresponsabilidade, levei para a casa da minha namorada um montante de roupa suja. Que vergonha alheia. Ela lavou para mim. Ganhei um presente maravilhoso. 

    Ganhei minhas roupas com o cheiro próximo ao da casa do meu amor. No momento da mais cruel saudade, tenho-a comigo sempre. Usei sistematicamente essa presença gostosa, escolhi para os momentos de maior dor, escolhi para os momentos de maior ausência. Na solidão tive momentos de afeto.


Vendo aquele pôr alaranjado, sentindo seu cheiro, recobrei a trilha de eudaimonia

Aquele pássaro não desce, ele paira, flerta e não chega. 

Me espera, eu vou. 


27/09/2022

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

 Gosto de deixar a janela do meu quarto aberta. Logo em frente tem uma mata, ela traz um frescor pouco visto no interior Paulista. Traz também um pouco de poeira, o toque de vida desejada para nossos textos, tão imóveis que, quando sujos ganham atenção. Para uma cidade tão parva, a visão natural e a poeira, acabam por ser grande coisa.

O mais brilhante da janela da nosso quarto, todavia, é de noite quando as nuvens ficam cinzas e o céu quase estralado. 

As vezes, me questiono se o rubrar deste céu vêm do mar, o que não seria ruim, ou talvez venham da indústria que guisam essa cidade. Pois bem, que seja. O que resta, apenas, é abrir a janela de noite, na noite calada, na sequência de nosso amor. Com nossa respiração cojunta que fomenta o 1 e suspiros que são paixão em alguma língua. 

Abra a janela, veja os rubrares duvidosos, com a mão vejo seu corpo desnudo e não há fronteira, a noite roxa (como uma certa terra) e entre as estrelas, entendo. 


07/08/22 21:32



segunda-feira, 4 de julho de 2022

Hoje lembrei muito de você,
Debruçado naquele livro verde,
me fez entender,
um feixe de sol laranja.
Pensei em seu pé e o sentimento de saciedade.
No leite, de outro mundo.
Palavra outra, saudade. 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

 Faz um tempo eu quis

Te escrever ouvindo patofu

No carro

Imitando versos portugueses

Sobre momentos quaisquer


Como você gosta