Eu sempre te digo que a arte alimenta, não sei se você me ouve, mas eu sei que me faço ouvir e sei que te ouço quando me escutas, lendo calma e caprichosamente sobre o furto de um jacinto numa instância outrora imperial carioca. A arte alimenta e talvez por isso tenha tanta fome...
Existem duas formas de perder na cidade. Você pode se perder ao andar e encontrar conhecidos ou conhecidos de conhecidos e parentes destes e antigos colegas de outros conhecidos que, por ventura, você conheceu e assim, cair na perdição de conhecer quase ou tudo sobre nada e redundâncias da vida profana de conhecidos da cidade. Isso com o grau de profundida de uma mesura que acaba em um mexerico.
Gosto mais do segundo tipo: gosto de me perder na cidade, na solidão. Na solidão de ter tanta gente ao redor acima e abaixo que, a leseira de tantos conhecidos por conhecer se transforma em falta, a falta se tornando rotina e desilusão se formaliza naquele "acinzamento" melancólico de Eça de Queiroz ou naquele quê "blasé" de Simmel. Essa falta que deveria ser a morte de esperança não é, e não é por você.
Com você a cidade tem mais vida, com você a cidade tem mais arte. Por mais que eu diga, você é quem faz. Despretensiosamente.
Descobri que minha cidade, nossa cidade é contemplada por uma Deusa e seus monstros. Uma casa de campo, que ainda não visitamos. Com você um dia percebi que um livro vermelho no balcão da biblioteca reservava uma ligação entre Unicamp e Picasso. Sempre preferi Picasso à Dalí.
Um gesto repetitivo de pegar livros pode parecer cartunesco. Confesso. Mas nesses dias que são dias qualquer suspiro de vida que venha é bem-vindo! Qualquer suspiro de arte, qualquer suspiro de amor é amor. Por mais que despretensioso. Ao me mostrar os recantos escondidos dessa cidade me mostras os seus encantos empedernidos na vontade, falta vazão e, aqui estou.
Esses pedaços de papel que sua bolsa me defendeu apenas potencializa meu amor. Tal como passar tarde em cafés. Esse seu jeito de me levar ao belo e ao melhor, esse tanto de vida, me mostra como a vida é melhor.
É um prazer me perder nos seu conhecidos desconhecidos e encontrar suspiros, inalando arte disciplinada e expirando amor.
A arte alimenta, como um sol... Um sol loiro.